Falar sobre lendas é falar sobre as crenças de um povo ou nação. Cada sociedade possui lendas, sejam elas fortemente repassadas às próximas gerações ou não. Essas narrativas fictícias, que devem ser sempre valorizadas, estão presentes na cultura do nosso país, justamente por este ser altamente miscigenado. Porém, infelizmente, muitas vezes as lendas são esquecidas ou desvalorizadas pela nossa própria sociedade, que valoriza mais a história de outras nações a nossa. Portanto, é de suma importância que analisemos e retomemos as nossas raízes culturais, para que possamos entender sobre a diversidade cultural existente no Brasil. Além do mais, como é possível perceber, muitas lendas indígenas, por mais parecidas na essência dos mitos que conhecemos, possuem suas nuances, que são extremamente importantes para o entendimento da vida cotidiana deste povo.
A lenda que estará nessa postagem foi retirada do livro Contos e lendas do waupés, sendo os créditos totalmente devidos a ele. (Nota: a região que envolve São Gabriel da Cachoeira era antigamente chamada de waupés).
Curupira (ou Boraró, em Tukano)
"Curupira, palavra da Língua Geral, é a mãe do mato, o gênio maléfico que vive na floresta e que pode ser fatal aos que, por acaso, o encontrem. Dizem os indígenas que (ele) tem figura de homem, com dois metros de altura, muito peludo, um olho na frente e outro atrás, além da particularidade de ter os pés virados para trás e com mais um metro de comprimento. Dizem que vive na cabeceira dos igarapés, comendo caranguejo.
Se uma pessoa entra em um igarapé onde esteja o Curupira e o vento sopra para cima (isto é, para as cabeceiras), o Curupira, percebendo pelo cheiro que há gente, vai logo ao encontro dessa pessoa, pega-a, fura-lhe a cabeça e chupa-lhe o sangue. Se percebendo por algum barulho que no igarpé há Curupira, (e que) a gente tenta fugir, o Curupira urina por cima da mata e basta que uma gota de urina caia sobre a pessoa para matá-la imediatamente. Daí o medo pavoroso que todo índio tem de Curupira. Quando a gente viaja e faz comida à beira do rio, deve prestar muita atenção para que a panela em fervura não entorne, porque se isto acontecer, pode virar Curupira."
Ao analisar essa lenda, é muito claro que existem diversas diferenças entre a história fictícia que conhecemos e a que os indígenas acreditam. Para deixar essas nuances mais evidentes, separei um trecho (extraído do site: http://lendasdobrasil.blogspot.com.br/2010/10/lenda-do-curupira.html ) dessa mesma lenda, agora mais parecida com a que nos é repassada.
Curupira
"O Curupira gosta de sentar na sombra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é observado, logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar. 'Não adianta correr atrás de um Curupira'; dizem os caboclos, 'porque não há quem o alcance'.
A função do Curupira é proteger as árvores, plantas e animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o Curupira emite sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e assustadoras para espantar os 'inimigos das florestas' ".
Diante de duas lendas com a mesma essência, mas muito diferentes, vemos a importância da preservação da identidade cultural e da valorização dos povos e etnias do nosso país. É incrível descobrir que, em um país tão grande como o Brasil, existem tantas manifestações artísticas e culturais como essas. E, com certeza, todas as formas de narrativas fictícias devem ser aproveitadas e estudadas, criando assim um apreço maior pelo nosso passado histórico e um maior conhecimento da sociedade brasileira.
Existe alguma lenda indígena que você gostaria de conhecer? Deixe nos comentários dicas ou sugestões, que farei o máximo para trazê-la!
Até o próximo post!!



